quinta-feira, 7 de julho de 2011

Salários sobem, mas cai o número de jovens na construção civil


Baixos salários, condições precárias, falta de plano de carreira e instabilidade profissional. E, acima de tudo, falta de glamour, segundo especialistas.
Com essas características, está difícil as empresas da construção civil atraírem trabalhadores jovens e qualificados.
O setor, que já sente um “apagão” de mão de obra, deve sofrer ainda mais com a falta de profissionais nos próximos anos, segundo estudo divulgado nesta terça-feira (5) pela FGV (Fundação Getulio Vargas), em parceria com o Instituto Votorantim.
Atualmente, paga-se mais ao trabalhador do que em 2003. Há oito anos, os operários da construção recebiam R$ 735, em média. Em 2009, os salários subiram para R$ 925, aumento de 26% na remuneração.
Ainda assim, o funcionário de construção recebe menos do que a média geral dos trabalhadores ocupados - que ganhavam R$ 900 em 2003 e passaram a receber R$ 1.094 em 2009.
Rafael Gioielli, gerente de pesquisa do Instituto Votorantim, explica que os ciclos econômicos são responsáveis por maior ou menor necessidade de mão de obra. Como pouco depois da criação do Real a economia estava aquecida, os salários estavam altos em 1996. Na época, quem trabalhava na construção civil ganhava R$ 937.
Ainda assim, o documento levanta a discussão sobre a necessidade de profissionais versus o desinteresse da nova geração. Em 1996, 34,2% dos trabalhadores do setor tinham entre 15 e 29 anos, e esse número caiu para 28% em 2009. Ou seja: apesar de ter vagas, os jovens não estão interessados.
Apesar de ter aumentado, a FGV mostra que o nível dos salários destes profissionais ainda está abaixo da média dos outros setores: R$ 933 contra R$ 1.094.


Falta de glamour
O coordenador do estudo, Marcelo Neri, da FGV, diz que o brasileiro está estudando mais e buscando trabalho menos “braçal”. Segundo ele, faltam jovens neste mercado “porque eles querem estudar mais”.
Na outra ponta da cadeia, Izilda Leal Borges, gerente de atendimento ao empregador do CST (Centro de Solidariedade ao Trabalhador), concorda com Neri e diz que vê essa rejeição com frequência. Ela faz a ponte entre as empresas que abrem vagas pelo centro de recrutamento e quem busca emprego por lá.
- Não há glamour na construção civil. A expectativa do jovem com o "boom" da tecnologia é ficar sentado em uma mesa, atrás do computador e consultando planilhas. O mundo da informática é extremamente amplo.

Gargalo
Como já faltam profissionais, o gargalo tende a aumentar. Izilda conta que o perfil do selecionado para a construção civil pelo CST tem mais de 35 ou 40 anos e está “encostado”, fora do mercado.
A gerente conta ainda que o setor de higienização está sendo esvaziado. Quem trabalha como faxineiro, por exemplo, está migrando para a construção civil e buscando uma vaga como pedreiro. A diferença está nos salários: enquanto um faxineiro recebe em média R$ 540, o pedreiro ganha entre R$ 800 e R$ 1.000, na Grande São Paulo.
- Serralheiro, pintor, azuleijista; todos estão muito valorizados. Temos no nosso sistema vagas para pedreiro em construtoras que pagam R$ 1.000. Se ele for autônomo, pode ganhar R$ 100 ou R$ 120 por dia, quase R$ 3.000 por mês, sem carteira assinada.

Solução
Atrair os novos trabalhadores para este mercado é tarefa tanto do poder público quanto da iniciativa privada, diz Gioielli, do Instituto Votorantim. A solução passa por investimentos nos cursos de educação profissional, e, claro, pelas melhores condições de trabalho oferecidas pelas empresas do país.

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